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Cultura

O CINEMA E A MULHER

“4 meses, 3 semanas e 2 dias” retrata a precariedade dos abortos clandestinos

16 Feb 2008 | Enquanto a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta uma Campanha da Fraternidade com eixo na luta contra o aborto e “em defesa da vida”, chega aos cinemas brasileiros o filme “4 meses, 3 semanas e 2 dias”, de Cristian Mungiu, que mostra de forma abrupta e chocante a realidade das mulheres que fazem abortos clandestinos.   |   comentários

Na Romênia de 1987, quando se completam 32 anos do Estado Operário degenerado, duas estudantes vivem não só os últimos anos desse regime como também suas consequências, como a proibição ao direito de aborto, decretado em 1960.

Dessa forma o filme demonstra principalmente o que significou o stalinismo nos aspectos da vida cotidiana, que são os aspectos mais difíceis e cruciais de se modificar no processo da revolução. Esses foram aspectos bastante diferentes das primeiras medidas revolucionárias que tomou o regime soviético em relação a mulher trabalhadora, entre eles o reconhecimento do direito ao aborto e o divórcio. Por isso, não se pode confundir as propostas comunistas com as propostas dos países do “socialismo real” , como foi a Romênia.

O filme começa com a seguinte questão: Gabita engravida e precisa abortar, porém sua imaturidade a coloca em diversas situações de risco, tendo em sua amiga Otilia uma cúmplice sem limites. Nessa corrida, num país onde tudo parece muito difícil, do racionamento de alimentos ao aluguel de um quarto de hotel, Otilia enfrenta todos os obstáculos para ajudar sua amiga Gabita. Porém, a clandestinidade do aborto não implica apenas na falta de segurança e nos riscos de saúde que as mulheres sofrem, mas também nas situações de humilhação às quais são submetidas.

Conseguem, por indicação de uma outra amiga, o nome de um suposto médico que poderia lhes ajudar. Os diálogos inacabáveis entre as jovens e o “médico” que faz abortos de mais de 3 meses são um ponto importante da angústia que perpassa todo o filme. O “médico” as oprime, e não porque quer dinheiro em troca de um serviço que lhe custaria sua liberdade. “Vou ser legal com vocês, portanto, quero que sejam legais comigo também” , diz ele.

É nesse tipo de situação, num mundo clandestino, em meio ao mercado negro, onde todos se beneficiam, de “médicos” a hotéis baratos, as mulheres, sobretudo as trabalhadoras e pobres, são submetidas a qualquer tipo de acordo para fazer um aborto. Essas situações precárias e uma sociedade que não enxerga suas próprias contradições e condenam a prática do aborto não podem sequer começar a compreender que, como disse Trotsky, este é um triste direito pelo qual os revolucionários devemos lutar.

O filme, bastante audaz frente ao tema “polêmico” , não o trata como um tabu, fazendo assim um retrato-denúncia de um regime opressor onde as mulheres não podem decidir o que querem fazer com seu próprio corpo.

Sabemos que no capitalismo meio milhão de mulheres morrem a cada ano por complicações durante a gravidez e na hora do parto e 500 mulheres morrem a cada dia por abortos clandestinos. E mesmo assim existem setores reacionários propondo “defender a vida” matando essas mulheres.

Por isso é necessário que as organizações de esquerda lutem para que o Estado se responsabilize em garantir o livre direito de aborto em condições seguras e por métodos contraceptivos gratuitos. O Estado tem a obrigação de garantir atendimento à saúde de qualidade e isso inclui a garantia de vida às mulheres que hoje só podem recorrer ao aborto clandestino quando não querem ou não podem ter filhos. Deve-se garantir todo o apoio médico e psicológico assim como os medicamentos necessários a um aborto seguro.

Diante de tamanha opressão que sofremos não só no capitalismo, mas também como sofreram as mulheres sob o regime stalinista, devemos saber: a consigna pelo direito ao aborto gratuito e com segurança está na ordem do dia.

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